terça-feira, 12 de outubro de 2010

A menina e os balões


Numa tarde de domingo crianças brincavam em uma praça pública. Algumas se balançavam outras corriam pra lá e pra cá, outras jogavam bola. Em meio a todas essas, havia uma menina de vestido rosa, sozinha hipnotizada olhando para o céu sorrindo.
Curiosamente, olhei e nada vi de tão especial além de alguns balões coloridos que parecia ter se soltado de algum lugar.
Olhei de volta e ela continuava lá, parada no tempo com o olhar fixo para os balões como se estivesse sido hipnotizada.
A cena era no mínimo curiosa, e deu-me uma vontade enorme de ir até aquela garotinha e perguntar o que tanto a encantava lá em cima de onde não tirava os olhos.
Ali fiquei entre um pensamento e outro, entre um ímpeto de ir até ela e outro de ficar para não incomodá-la e então, de repente ela se levantou e se foi em direção a alguém.
Tão absorta em meus pensamentos estava, que não percebi quando uma senhora chegou perto e a chamou, levando a pelas mãos a caminho da rua.
Decidi retornar para a leitura do meu livro, olhando mais uma vez para um céu que já não tinha mais o colorido daqueles balões e também não havia ali naquele lugar a alegria daquela garotinha. Imediatamente me bateu uma saudade nostálgica, e recordei da minha infância, quando com meus primos subíamos nas mangueiras da fazenda do tio Abel, para comermos manga no pé. Fechei automaticamente o livro na tentativa outra vez frustrada de retornar a leitura, e ali meu pensamento foi tomado de inúmeras lembranças felizes.
Lembrei-me dos passeios a cavalo, do dia em que um disparou comigo até sua coxia e ali empacou. Das lindas bolinhas de gude que colecionava além dos álbuns de figurinha e papéis de carta. Da Susi ciclista que ganhei de aniversário do meu tio Eudes que a colocou para andar em volta do bolo. Do mundo feliz que meu pai me deu antes de morrer e até hoje ainda guardo comigo. Dos amigos que brincávamos de pique esconde, bandeirinha, elástico, amarelinha, pingue pong, quebra-cabeças, e tantas outras brincadeiras mais. Dos retiros da igreja que não queríamos ir dormir para brincar mais. Da primeira viagem que fiz sozinha com a turma da escola, para o play Center, Cidade das crianças e Simba Safári em São Paulo. Da minha avó em Minas, atrás do porco e fazendo toucinho pra gente. E de quando ela no inverno me arrumava para escola ainda debaixo da coberta. Dos pães que ela fazia em casa, das canções que ela cantava para eu dormir.
Dos postes tortos que fui enganada a olhar para parar de chorar na estrada quando me tiraram o picolé para dar a minha prima mais nova que deixou o dela cair no chão.
De quando aprendi sozinha e em um dia a andar de patins e no dia seguinte meu braço doía tanto que parecia quebrado. De quando aprendi em Brasília a andar de bicicleta e caí em cima de uma planta de espinhos que tem muito lá. Fiquei com espinhos espalhados pelo corpo, minha mãe teve que me ajudar a tirá-los, e pra falar a verdade nem me lembro se doeu.
Boas lembranças tomaram-me de súbito os pensamentos, e retornando ao meu tempo, ainda com um esboço de sorriso nos lábios me dei conta ao olhar o relógio de que estava ali sozinha sentada naquele lugar onde já findava a luz do dia por um bom tempo.
Minhas tenras lembranças absorveram-me no espaço e no tempo e então me lembrei mais uma vez da garotinha que olhava para o céu encantada com os balões e sorri.
Karina Horst de Freitas
01/10/10 12:30h
O que meu mais que tio querido, pai do coração, me escreveu de volta...

Karina, querida, Karina.
Gosto dos teus escritos. Você tem uma alma nobre, criativa, produto da graça abençoadora de Deus. Consola antes de ser consolada, como um reflexo do amor que nos amou primeiro. Deus te abençoe mais e mais.
Senti o desejo de também escrever-te e o faço neste instante, sobre "Mais um pouco de Mim".

=== Sonhos de Karina ===
Sonhos, são lembranças encantadas da infância,
Bem vivida ou mal amada.
Sonhos, são caminhos de esperança,
roubada ainda na infância.
Sonhos, são suspiros de desejos incontidos na alma,
Que vem, às vezes de repente, em plena calma.
Sonhos, são sintomas do infinito,
Da alma silenciosa em seu grito.
Sonhos, sonhos, quantos sonhos,
Tristes, alegres ou rizonhos;
Como marcas profundas da alma em aflição,
Que se aquece, só, no coração.
Sonhos, como nuvens brancas, na amplidão;
Na tela imensa do universo;
Que pinta em frente e verso,
De azul ou de outra cor,
Nos múltiplos tons de se viver a dor.
Sonhos, que sonham todos os mortais,
Que um dia passarão, além,
Dos sonhados que ficaram antes dos portais.
Sonhos, acalentados na esperança,
Que surgem do baú de todas as lembranças;
Retratos sem parede, em preto e branco, amarelados;
Pegadas apagadas de ventos ou bonanças.
Sonhos, que tocam as rodas do tempo,
Tempo passado, ou passando,
Vivido, amado ou amando.
Sonhos, de um tempo de menina,
Pequenina, nos braços paternais
De quem um dia te chamou KARINA!
Sonhos, doces, puros, eternais !
Eudes Horst
Recife, 30 de outubro de 2010

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